segunda-feira, 13 de julho de 2009

coincidências linguísticas

Provavelmente lemos todos os mesmos livros e estamos todos nas mesmas conversas.
Mas fará sentido usarmos todos a mesma linguagem quando o sentido que damos às palavras é inevitavelmente diverso?
Quem é quem para legitimar qualquer tipo de consistência às ditas, principalmente as escritas? Mas também, quem é quem para as tentar legitimar, escrevendo-as?

Fazemos com as palavras o mesmo que com os objectos:
para mim um rádio é um instrumento que dá musica, aquela que quero ouvir; para um camarada aqui ao lado o mesmo objecto serve para ser desmontado e extrair do seu interior a mola que quer ver – a metodologia é diferente, o objectivo é o mesmo: o querer.

Pelo que leio, parece-me que aqui no Porto estes dois termos, metodologia e objectivo, são revestidos com o mesmo material linguístico – descaracterizando-lhes a forma e iludindo o leitor.
Palavras como:
alternativa,
independente,
comunidade,
resistência,
poética,
oportunidade,
mercado de trabalho, aka: mercado criativo,
e até arte,
têm significados diferentes em bocas diferentes – é suposto que assim seja e é suposto que assim seja entendido, no desencontro.

O encontro/entendimento pela linguagem só não é uma utopia para aqueles que se transformam naquilo que representam. E a representação aqui, não é mais que uma especialização (esse vírus liberal que também constipa o meio artístico).

***

Que posso concluir depois de ler as catalogações com que alguns daqueles que agem, actuam, observam e ajudam a construir a dita cena artística do Porto fazem da mesma, de si mesmos e dos outros que a constituem? Ou ainda, desse lugar "idílico" onde se "faz" "verdadeiramente" "arte"?

Tanto e apenas o desencontro.

(O meu, claro! Que não tirei a especialização...)